segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A cena do ano

É uma grande pena não ter essa cena em mãos. Mas tentarei descrevê-la e não será difícil para quem ler este texto imaginar tal fato.

Na segunda-feira passada, por volta das 19h20, eu e meu noivo, estávamos indo à universidade um pouco depois do horário de "pico" na rodovia Mogi-Dutra (SP-56). Os fretados já haviam passado e os carros eram poucos dado ao início das férias de muitos cursos. Na frente da entrada do Tabor (abriga padres e uma faculdade de teologia), havia uma viatura da polícia Rodoviária Federal (ali há sempre uma viatura) e um caminhão com produtos da Coca-Cola estacionado logo a frente. Com aquelas luzes do carro oficial ligadas, pensei: "é acidente ou inspeção mesmo". Quando passamos em frente, à 70 Km/h, tivemos a sorte (ou sortilégio?) de presenciar um policial colocando um engradado de Coca Cola no banco de trás na maior tranquilidade. Ao seu lado, estava o motorista do ônibus com outro jogo de refrigerantes na mão. Este seria o próximo a ser posto no carro.

Na cena, estavam presente mais um ou dois policiais, não me lembro. O motorista era caricato. Franzino e desajeitado. Um coitado. Tudo isso na cara de quem quisesse ver.

Na hora, esbravejei: "Porque não estou com uma máquina pró (profissional) aqui no carro!!!!!! Porquê? Porquê?" Pela velocidade que passamos, só um boa máquina para captar a cena ilustre. Nunca tinha visto a corrupção policial tão explícita. Sei de coisas que o Paulo, sendo advogado criminalista, me conta, mas dessa forma não.

No momento, não sabíamos se rimos ou se chorávamos. Depois, comentando, meu noivo explicou que, na estrada, por mais que as empresas estejam em dia com documentação do caminhão, do funcionário e etc eles preferem pagar "pau" para a polícia do que sofrer uma investigação mais profunda com relação à impostos, por exemplo.

Ver um homem, pai de família provavelmente, se "prostituindo" por dois engradados de Coca Cola foi o fim. Me senti envergonhada por existir homens assim. E com raiva de mim mesma por não ter uma máquina no colo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Todo mundo deve saber

Foto: www.focojornalistico.com.br

Quando pensamos que já vimos os melhores filmes, sempre vêm alguém e diz: "Você precisa assistir esse aqui". Que bom que isso acontece. No meu caso, o frequente usuário desta frase chama-se Gerson, ou melhor, Lico, como todos o conhece.

Há umas duas semanas ele trouxe o "Ninguém pode saber" (Dare mo Shiranai / Noboby Knows / 2004.) , um filme japonês, vencedor do Festival de Cannes de 2004. Assim que pude, assisti a essa obra prima. O filme retrata o silêncio das almas japonesas, que, mesmo em estado de calamidade, não se abstém das "regras" vigentes. Mais do que isso, retrata a inocência e a insegurança de uma criança que se vê responsável por mais outras três. Líndissima atuação de Akira( Yuya Yagira) e a beleza de Yuki (Momoko Shimizu), emociona.

Esse filme, me atrevo a comparar com Babel. Cada um vive um inferno particular, não digo o das crianças que não sabem se defender, mas das pessoas, que viam quatro seres abandonados fazerem sua vida.

Sinceramente, causa uma dor muito grande assitir esse filme. Primeiro porque foi baseado em uma história verídica e segundo porque vemos o quanto nossa vida é boa. Eu odeio essa frase, mas fazer o quê? É um tapa na cara.

Bom, enquanto vivemos num país tolerante demais, outros vivem em situação oposta. Se a história tivesse ocorrido no Brasil, a família, talvez, tivesse um final diferente, ou mais tênue....ou mais mascarado. O abandono, em sim, está em todas as nações, mas o abandono físico traz sequelas terríveis e é aí que a compaixão do brasileiro faria a diferença.