quinta-feira, 28 de abril de 2011

O fiasco da BBC



A BBC anunciou no último dia 26 que vai veicular uma série que mostra os últimos momentos de vida de um homem de 84 anos, paciente de um câncer incurável. Segundo os produtores do programa, o objetivo é combater um tabu em torno do tema da morte. Querem mostrar minutos antes, e minutos depois do desligamento do cara.



Não há sequer nenhum argumento, quanto mais de interesse público para uma empresa jornalística levar pra casa de milhares de telespectadores o momento da morte de uma pessoa.



Me questiono qual tabu eles querem levar pro ar, sendo que a morte possui vários deles!!!! Pelo informe, não há intenção religiosa, nem técnica (já que profissionais da saúde veem isso todos os dias), nem ideológica, nem nada! Querem mostrar a morte, simplesmente, como se ela fosse padrão, como se houvesse uma única forma de compreendê-la.



O momento de desencarne é algo muito particular para a pessoa e para os familiares envolvidos na questão, seja de qualquer forma que ele vir a ocorrer. Não faz sentido levar a público algo que eleva vários sentimentos de tão várias maneiras que a gente até desconhece, sem nenhum objetivo específico que venha trazer algum benefício para a sociedade!



Isso não passa de um reality show barato, apelativo numa rede considerada entre as de mais credibilidade.



Pra finalizar o porta voz acredita "que este seja um caso de uma morte não violenta, natural, uma visão de todas as pessoas que ficaram próximas enquanto ele falecia".



E????????????????



O que vai compor este momento??? Sentimentos, vivências na família que NUNCA uma série conseguirá retratar de forma fiel nem que ela dure seis meses! Nunca seríamos capazes de captar no silêncio dessas pessoas o que significou todo aquele processo, desde o momento em que passaram a conviver com o hoje adoentado.



Então, voltemos, qual é mesmo a utilidade dessa proposta?



Francamente, que decepção BBC!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Law & Order e o Cytotec no Brasil


No Law & Order: SVU de ontem, a legista disse que o aborto da estuprada foi feito com Misoprostol (Cytotec para nós, quem nunca ouviu um caso??), remédio pra úlcera e que tem livrado várias mulheres brasileiras de carnificinas das clínicas clandestinas no país. No diálogo ficou subtendido que o Misoprostol era benéfico pq quase não havia efeito colateral. No final do capítulo, a vítima morre devido a uma bactéria que se gerou das substâncias do aborto.

Apesar de falarmos sobre uma obra ficcional (o seriado), achei totalmente descabida a informação do Cytotec benéfico para brasileiras.

Benéfico não é e nunca será, o que foi corroborado no final da série, com a morte da menina.

Agora fico pensando qtas desmioladas poderão falar para outras que ouviu na série americana que o Cytotec é uma boa opção face à clínicas clandestinas no Brasil.



Com os nossos problemas de sáude pública não se brinca!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dúvida



Não existe nada pior na vida do que a dúvida. A todo tempo estamos em busca do sim ou não, sempre muito lógico e objetivo. Deixar a decisão para o destino, não, isso não está nos planos de ninguém.

Não é de hoje que ouvimos falar da doença da dúvida. Certamente o seu bisavô ou o avô morreram de câncer. Toda família tem um caso do tipo, mas parece que antes descobriam a doença após a morte, ou muito próxima dela, ou com outras complicações, enfim. Não há relatos de que minha bisavó passou por um tratamento penoso no hospital.

E é aí onde mora o sofrimento: no tratamento. A pessoa descobre um tumor, muitas vezes indolor e quando começa o tratamento químico, é que sente a dor de ter um câncer. Como entender que para matar uma doença no corpo você deve enchê-lo de radiação? Usar terapias com efeitos colaterais indescritíveis?

Um médico ateu um dia disse: toda doença parte da alma. E dizem que para tratar a alma é necessário tempo e perseverança. Outros dizem, também, que por isso, o câncer pode ser prevenido. Mas vai falar isso pra quase todos os enfermos, pegos de surpresa...

Correntes ideológicas a parte, vejo o câncer como uma doença coletiva. Para a família, para os amigos próximos. Todos entram em tratamento, às duras penas, esperando a ação do tempo, e a concretização do destino, se o tratamento será aceito pelo organismo, se a cura será para sempre, ou se haverá resquícios.

É um tratamento da alma, um período em que os envolvidos refletem sobre o futuro que tanto planejamos, e que sempre é incerto.

Talvez o câncer venha para ser uma pausa na vida, e de uma forma positiva, até. Uma pausa para aprendermos a viver o hoje, demonstrar afeto hoje, apreciar as belas coisas que Deus nos deu, no agora, antes que elas passem despercebidas.
Não sei qual será minha reação se um dia for acometida pela doença, ou ocorrer com alguém muito próximo, como o meu marido ou meus pais. Mas me espelho em algumas atitudes por aí.

Como a da minha cunhada, há meses, na angústia de confirmar nódulos malignos e de ter que envolver toda a família nesse processo. Ela sempre escreve, “decido ser feliz todos os dias”. É algo memorável a fazer por nós mesmos, não obstante a toda dificuldade que isso nos impele.

Devemos perseguir isso. Treinar ser feliz todos os dias, para atenuar a dor da dúvida diante das agruras do destino.