terça-feira, 1 de setembro de 2009

Era uma vez....

...uma pequena cidade chamada Paraíso. Ela era exuberante, enorme, figuradamente, um pedacinho do paraíso no quintal de um caldeirão metropolitano. Seu diferencial sempre esteve nas belezas naturais, no clima bucólico das estradas, nos fins de tarde vistos do alto. Mas este potencial nunca fora enxergado como fonte de riqueza entre aqueles que comandavam o vilarejo.

Como qualquer outra pequena cidade do país dos sonhos, Paraíso surgiu na concentração de famílias humildes, da roça, que não encontraram mais lugar ao sol na época em que se extraía ouro das Minas Gerais. Esta população, rica em cultura, em sabor e sabedoria interiorana, com o passar do tempo foi deixada para trás e não lucrou com o desenvolvimento do turismo. Hoje ela se tornou uma cidade pobre, de desempregados e viciados, e ainda não sabe o rumo que irá tomar.

Por muitos e muitos anos Paraíso foi comandada por um coronel de personalidade forte, instável, e fraco em suas idéias. Foi com garra e um tom paternalista que exerceu a representatividade do povo por muito tempo. Hoje ele já não é mais coronel na cidade, mas deixou marcas profundas na personalidade de cada um.

Os outros comandantes que intercalaram os mandatos do coronel também não conseguiram mudar muito as coisas. Há grande probabilidade dessa oposição, no fundo, no fundo, ter sido criada com o mesmo afago paternalista. Essa raiz maligna emperrou idéias, iniciativas, mudanças.

Foi quando surgiu um candidato a rei em Paraíso. Já era rei por outras bandas, era branco, tinha os olhos claros, cara de monarca da época, um filho da burguesia, da classe operária emergente. Adotou Paraíso para investir em boas ações, foi visto com bons olhos e logo atraiu o sorriso de quem queria implantar uma nova era de governança.

Derrubou o coronel e assumiu o trono com todo carisma possível. Era um homem bom, tirava do bolso para ajudar muitas pessoas. Trouxe a Paraíso a fama de bom empreendedor, afinal, era líder no setor de seus negócios na cidade mais rica do país. Nomeou seus funcionários e aí começou a derrocada.

Não entendia nada de administração pública, então entregou muito poder a pessoas que jurava confiar. Repetia com categoria aquilo que seus assessores lhe diziam, não acompanhava nada de perto. Deixou a água rolar, afinal, aquilo que pouco fazia já era muito face ao que os outros fizeram.

Ganhou a reeleição embaixo de bombardeio imoral. Manteve o carisma e adicionou altas doses de pena. Tinha que ganhar por uma questão de honra, o rei foi injustiçado por seus assessores e opositores. Ele era sozinho, mas mesmo assim precisava ganhar. Devia se tornar um herói, de mais uma batalha de tantas outras na sua vida.

Depois de garantir a permanência no trono, o rei senta cansado e olha para a paisagem a sua direita. Respira fundo e começa a contar os dias para o seu mandato acabar. O que precisava era ganhar, nada mais. Depois, era só esperar. Montou uma equipe nova de assessores e aguarda o mundo acabar em barrancos para morrer encostado. Não faz questão de discutir nada, mantém o mesmo discurso, e não discorda de seus assessores. Já está velho demais para isso. Sua preocupação agora são as consultas médicas, pelas quais precisa passar.

A Paraíso restou a frustração. Tanta mudança na roupagem, mas o mesmo discurso na essência. A cidade hoje tem o desafio de conviver com idéias contemporâneas num local que parou no tempo. Não há auto estima entre as pessoas de Paraíso. A população cresce rapidamente, e todo dia que passa é um a menos para as coisas mudarem. Talvez o destino de Paraíso seja o êxodo, e esperar pela morte daqueles que insistirem em ficar. Talvez ela seja tomada pelas plantações clandestinas de eucaliptos, único negócio lucrativo na cidade.

Nem a Igreja Universal quis ficar por lá. Faltou fiéis, faltou fé.
Gente

Li o texto abaixo e achei o máximo. Havia me esquecido das famigeradas portas de banheiro, aquela zona de escritos com e sem propósitos. De fato, há de tudo nestes espaços, não há limite, não há censura!

Mas hoje é difícil encontrar portas pichadas. Talvez pq as pessoas estão mais civilizadas, ou então, estão covardes perante os fatos que as indignam.

Acredito na segunda possibilidade.


Onde não há limites nem censura?

Nunca vivi a repressão, a tal ditadura, a total restrição de direitos individuais e a mal falada censura.
Acompanho de perto e, de perto, quase ninguém é normal, e vejo alguns resquícios ainda hoje dessas restrições descritas.
Falamos muito nesses dias passados sobre o fato envolvendo o jornal paulista Estadão que, está terminantemente proibido de veicular matérias sobre o filho do Senador e integrante da Academia Brasileira de Letras: “José Sarney”. Isso mesmo. A sentença foi “dada” por um juiz de primeira instância que tem estreitos laços de amizade coma família em questão. Pode? Aqui pode. Esse juiz teve a audácia de sentenciar e pior, uma instância superior, pasmem, manteve a decisão. Todos nos fazem de tolos: políticos, juízes e etc.
Recentemente um representante da Associação dos Jornais, ou coisa bem parecida, deu entrevista na Rádio CBN, no horário matutino, dizendo que os jornalistas podem escrever e falar o que quiserem e depois, cabe à pessoa ofendida buscar seus direitos.
Opa! Aí não. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Algum pensador já disse, e eu concordo, a virtude está no meio. Isso é regra para todas situações. Todas mesmo.
O nobre representante da associação precisa rever conceitos, viver em sociedade e talvez, só talvez, ler um pouco.
Um infeliz injustiçado por um órgão qualquer da imprensa vai se socorrer do judiciário? Se ele tiver sorte, talvez sua “moral” seja restaurada em uns poucos 15 (quinze) anos. Acho que dá para esperar.
Por tudo isso, vejo somente um lugar livre de qualquer censura, livre do poder judiciário, livre dos políticos e livre para expressar o que, quando e como quiser. Senhoras e Senhores: trata-se da famosa e liberal “porta de banheiro”.
As portas de banheiro são espaços democráticos, lá há a manifestação livre na acepção da palavra, você escreve o que quiser de quem quiser e como quiser. Geralmente é um espaço utilizado somente para críticas e lá se pode ofender a mãe, irmã, namorada, namorado, pai, amigo e qualquer um que dê vontade. Pode-se utilizá-la também como classificados, oferecendo seus serviços e desejos. Também é um espaço onde se pode usar seu lado de escritor, poeta, versando sobre os fatos que se dão naquele local. Enfim, lá é um espaço democrático.
O Senador José Sarney pode pertencer à Academia Brasileira de letras por ter escrito livros que ninguém leu (pelo menos eu não conheço ninguém), logo, o poeta anônimo de banheiro também pode, visto que certamente, suas poesias não mais lidas que os livros do senador imortal.
Se algum poeta anônimo de banheiro resolver deixar esse anonimato e quiser candidatar-se à imortalidade, mãos à obra.
Uma indicação ao representante da Associação dos Jornais, ou coisa que o valha, escreva em portas de banheiro, lá é o local em que o senhor defende como sendo livre. Lá não só o operador da imprensa, como o pedreiro, pintor, comerciante, empresário, brasileiro, estrangeiro e etc poderão escrever o que quiser. Desse escrito dificilmente partirá uma ação indenizatória, até por que ficará bem difícil anexar aquele artefato ao processo. Levar a porta de banheiro às raias dos tribunais.....acho difícil.
Por enquanto basta!

Anônimo escritor de porta de banheiro.