segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dúvida



Não existe nada pior na vida do que a dúvida. A todo tempo estamos em busca do sim ou não, sempre muito lógico e objetivo. Deixar a decisão para o destino, não, isso não está nos planos de ninguém.

Não é de hoje que ouvimos falar da doença da dúvida. Certamente o seu bisavô ou o avô morreram de câncer. Toda família tem um caso do tipo, mas parece que antes descobriam a doença após a morte, ou muito próxima dela, ou com outras complicações, enfim. Não há relatos de que minha bisavó passou por um tratamento penoso no hospital.

E é aí onde mora o sofrimento: no tratamento. A pessoa descobre um tumor, muitas vezes indolor e quando começa o tratamento químico, é que sente a dor de ter um câncer. Como entender que para matar uma doença no corpo você deve enchê-lo de radiação? Usar terapias com efeitos colaterais indescritíveis?

Um médico ateu um dia disse: toda doença parte da alma. E dizem que para tratar a alma é necessário tempo e perseverança. Outros dizem, também, que por isso, o câncer pode ser prevenido. Mas vai falar isso pra quase todos os enfermos, pegos de surpresa...

Correntes ideológicas a parte, vejo o câncer como uma doença coletiva. Para a família, para os amigos próximos. Todos entram em tratamento, às duras penas, esperando a ação do tempo, e a concretização do destino, se o tratamento será aceito pelo organismo, se a cura será para sempre, ou se haverá resquícios.

É um tratamento da alma, um período em que os envolvidos refletem sobre o futuro que tanto planejamos, e que sempre é incerto.

Talvez o câncer venha para ser uma pausa na vida, e de uma forma positiva, até. Uma pausa para aprendermos a viver o hoje, demonstrar afeto hoje, apreciar as belas coisas que Deus nos deu, no agora, antes que elas passem despercebidas.
Não sei qual será minha reação se um dia for acometida pela doença, ou ocorrer com alguém muito próximo, como o meu marido ou meus pais. Mas me espelho em algumas atitudes por aí.

Como a da minha cunhada, há meses, na angústia de confirmar nódulos malignos e de ter que envolver toda a família nesse processo. Ela sempre escreve, “decido ser feliz todos os dias”. É algo memorável a fazer por nós mesmos, não obstante a toda dificuldade que isso nos impele.

Devemos perseguir isso. Treinar ser feliz todos os dias, para atenuar a dor da dúvida diante das agruras do destino.

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